terça-feira, 16 de junho de 2015

O Sairé e a Lenda do Boto - Uma análise Psico-social - The Sairé and the Legend of Boto - A Psycho-social analysis


Música
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Trouxe o “olho”, trouxe a “flecha”,
Trouxe até muiraquitã.
E DANÇOU A NOITE INTEIRA
COM A BELA CUNHANTÃ (pré-adolescente).

Um grande mistério na roça se faz:
Fugiu cunhantã com o belo rapaz!...
... E o boto, ligeiro, nas ondas sumiu,
Deixando a cabocla na beira do rio...

Se alguém lhe pergunta:
“Quem foi teu amô?”
Cabocla responde:
“Foi boto, sinhô!”


O que é uma cunhantã!? Um menina, criança, pré-adolescente. E o boto manteve reelação sexual com uma menor de 14 anos!? Mas isto não caracteriza estupro presumindo!?

O que é o puxirum!? Um reunião, um encontro para celebrar, um ritual, da fertilidade da terra, da deusa da fertilidade, ou das "deusas"!? para promover a produção agrícola.
Boto cor-de-rosa: uma lenda da época da escravidão

Introdução

A lenda do boto tem sua origem na região amazônica (Norte do Brasil). Ainda hoje é muito popular na região e faz parte do folclore amazônico e brasileiro.

O que diz a lenda

De acordo com a lenda, um boto cor-de-rosa sai dos rios nas noites de festa junina. Com um poder especial, consegue se transformar num lindo jovem vestido com roupa social branca. Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e disfarçar o nariz grande. Com seu jeito galanteador e falante, o boto aproxima-se das jovens desacompanhadas, seduzindo-as. Logo após, consegue convencer as mulheres para um passeio no fundo do rio, local onde costuma engravidá-las. Na manhã seguinte volta a se transformar no boto.

Cultura popular

- Na cultura popular, a lenda do boto era usada para justificar a ocorrência de uma gravidez fora do casamento.

- Ainda nos dias atuais, principalmente na região amazônica, costuma-se dizer que uma criança é filha do boto, quando não se sabe quem é o pai.

No cinema


Filme Ele, o Boto - 1987

https://www.youtube.com/watch?v=bwQrU5si3WY


- A lenda do boto foi transformada num filme em 1987. Com o título de Ele, o boto, o filme tem no elenco Carlos Alberto Riccelli, Cássia Kiss e Ney Latorraca. A direção é de Walter Lima Junior.

Foi muito interessante perceber como o boto para não morrer por causa do crime e se livrar da pena, se joga ao rio para lá ficar escondido, melhor dizendo fica na dele e se submeta ao jogo das deusas, feitiçeiras, bruxas que o manipulam. Muita das vezes o boto se torna o "ricardão" no jogo social, sempre que o marido delas viajam o boto esta lá para satisfazer o desejo delas pois elas são movidas pelo, na realidade elas usam o sexo como forma de poder e de manipulação.

Bem típico de bruxas negras, psicopatas, que induzem e sugestionam as meninas, as cunhãs, já adolescentes, para manterem relações como os adultos, maneira indireta, para continuar manipulando os homens.

Qdo alguma coisa dá errado, como a gravidez, lógico, botam a culpá no boto. O ruim é quando o menino cresce e fica perceptível que os traços fisionómicos são completamente diferentes dos do pai.

Outro problema que pude perceber é que as meninas são iludidas de que com o tempo tudo irá se resolver, que que as adultas irão a ajudar, a maioria fica estigmatizadas como piriguetes para o resto da vida e qdo se tornam adultas que não servem mais ao jogo elas são jogadas a própria sorte, é então quando a ficha cai, mas ai já e tarde demais e elas teem que se virar sozinhas, muitas delas passa a ser distratas e espancadas pelos homens. E o ciclo se inicia todo de novo...
O Sairé portanto é uma festa indígena para celebra a sensualidade, a sexualidade e a fertilidade.

Para os caboclos e para os "brancos", a realidade deve ser outra, só que é muito comum durante a festa relacionamentos de homens adultos com adolescentes na cidade, não vê quem não quer.

Por que o conselho tutelar permite a apresentação de crianças e pré-adolescentes no festival!?

Vcs viram a propagando do Sairé deste ano, 2011, aparece uma menina de uns dez anos sendo seduzida e seduzindo um boto.

É muito sem noção!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Por que o boto usa no puxirum um muiraquitã!? Quem deu a ele!?

Qual o verdadeiro significado muirauqitã!? Virilidade masculina ou submissão!? Permissividade sexual!?

As camadas (dimensões) do muiraquitã.
1ª - Sorte

2ª - Virilidade (Hipersexualidade - Ninfomania)

3ª - Permissividade (Liberdade Sexual - Liberalidade)

4ª - Dominação Feminina (Feminismo Roxo - Animista)

5ª - NARCISISMO MEGALOMANO.
 
A Lenda – Segundo a lenda mais comum, os verdadeiros Muiraquitãs são filhos da Lua retirados do fundo de um imaginário lago denominado Espelho da Lua, Iaci-uaruá, na proximidade das nascentes do rio Nhamundá, perto do qual habitavam as índias Icamiabas, nação das legendárias mulheres guerreiras que os europeus chamaram de Amazonas (mulheres sem marido). 

O lago era consagrado à Lua, pelas Icamiabas, onde anualmente realizavam a Festa de Iaci, divindade mãe do Muiraquitã, que lhe oferecia o precioso amuleto retirado do leito lacustre. 

A festa durava vários dias, durante os quais as mulheres recebiam índios da aldeia dos Guacaris, tribo mais próxima das Icamiabas, com os quais mantinham relações sexuais e procriavam. 

A lenda também diz que, se dessa união nascessem filhos masculinos, estes seriam sacrificados, deixando sobreviver somente os de sexo feminino. Depois do acasalamento, pouco antes da meia-noite, com as águas serenas e a Lua refletida no lago, as índias nele mergulhavam até o fundo para receber de Iaci os preciosos talismãs, com a configuração que desejavam, recebendo-os ainda moles, petrificando-se em contato com o ar, logo após saírem d’água. Então os presenteavam aos Guacaris com os quais se acasalavam, o que os faria serem bem recebidos onde os exibissem, além de dotar outros poderes mágicos ao amuleto.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Muiraquit%C3%A3http://www.abrasoffa.org.br/folclore/lendas/muiraquita.htm
O que os casais, principalmente de adultos com adolescentes vão fazer lá durante a noite!? Tomar banho de rio, será!? É muito fácil você perceber isso durante os dias do festival, principalmente depois que acaba a festa. Será que lá ocorre a metamorfose, em os homens adultos se transformam em botos!? E essa estória de magia!? Isto me faz lembrar bebida alcoólica. Será que as meninas já estão completamente alcoolizadas quando elas atravessam para a ilha!? Será que isso é turismo sexual?!


O Turismo Sexual em Slter do Chão

"Estou muito feliz e honrada pela divulgação de minha querida cidade Alter do Chão. Ela é realmente tudo isso que a minha conterrânea Maria Soledade falou. Sobre a praia da Priquita sinto informar que não é mais permitido fazer nudismo, pois Alter do Chão estava se tornando destino de turismo sexual. Alguns políticos da região percebendo todo esse movimento de turistas, principalmente europeu, tratou logo de acabar com esta pouca vergonha já que algumas meninas nativas estavam se prostituindo nas redondezas. Outro fator que ajudou acabar foi o fato de que nos rios da amazônia existe uma espécie de verme que em contato com a genitália desnuda, se hospedam no canal urinário em busca de iodo da urina. Hoje a praia da priquita foi cercada e seu nome foi mudado, já que este tinha uma conotação pejorativa. Mas continuamos de braços abertos para receber qualquer pessoa que queira realmente fazer um turismo ecológico, nossa mais forte vocação"
http://bolcidades.nafoto.net/photo20100301094155.html 
  A Organização Mundial do Turismo (OMT) (1995) define o turismo sexual como “viagens organizadas dentro do seio do setor turístico ou fora dele, utilizando no entanto as suas estruturas e redes, com a intenção primária de estabelecer contatos sexuais com os residentes do destino”. Ryan (2001) por sua vez, entende que se trata de um tipo de turismo onde “o motivo principal de pelo menos uma parte da viagem é o de se envolver em relações sexuais. Este envolvimento sexual é normalmente de natureza comercial“.



O que pretendo desenvolver neste texto está diretamente ligado à lenda do boto. Porém meu objetivo é extrair dessa crendice algo que ela mascara.
"Sabe-se que em povoados ribeirinhos da Amazônia é costume o pai iniciar sexualmente suas filhas menores. Essa prática é aceita por aquelas comunidades. Trata-se de uma combinação de pedofilia e incesto e pode ensejar as justificativas para a lenda do boto. O grande peixe dos rios da Amazônia."


Praticas e representações sociais entre jovens: um estudo sobre a importância das matrizes de cultura, família e religião, em Santarém, Pará
…. No entanto, em Alter do Chão, o aumento do número de meninas que engravidam deixando de criar seus filhos, faz com que a comunidade já tenha uma geração de filhos sem pais diretamente responsáveis por eles. A liberdade sexual, uma herança cultural de muito tempo entre os boraris, como alguns dizem, pode contribuir para que cresça o numero de filhos de lares sem a figura masculina. Para muitos de meus informantes, falta nas famílias a figura paterna já que muito dos homens da vila, abandonam o lar para montar outros lares, perdem empregos em função do vicio ou mesmo tenham a característica de serem pouco perseverantes em seus compromissos. A mulher em Alter do Chão sempre é lembrada com bravura, pela preocupação de trazer o sustento para dentro de casa, ainda que não abandone seus momentos de lazer, folia e outros relacionamentos amorosos que acabam com o aumento do número de filhos para sustentar...
Associado a este tema, em Alter do Chão, os casamentos registrados em cartório ou consagrados pela Igreja são pouco freqüentes. A grande maioria das pessoas quando manifestam interesse mútuo acabam juntando seus pertences e passam a constituir família. Outra peculiaridade é que os relacionamentos amorosos se dão muito entre famílias. Primos que casam entre si, tios e sobrinhas, homens mais velhos com jovens adolescentes parecem ser práticas comuns...


Filme as Seduções de um Boto





O Boto - O Sedutor " O boto não dorme no fundo do rio"

https://www.youtube.com/watch?v=ZxvVgN9CvAA&list=PLVtCIWhGYaUNn3ZNvUpbP0YRgZCPtkv3z&index=9



O que diz o texto da Scielo na íntegra.

A INTERDIÇÃO E OS VÍNCULOS ATUAIS

Wilson Klain

“Uiara”. Esse é o nome do deus dos rios e protetor dos peixes. Assim os índios chamam o boto cor de rosa. 

Mas os "botos" cor de rosa têm uma particularidade: adoram festas. Principalmente as festas juninas: esperam cair a noite, saem da água, transformam-se em humanos (ou, dizem alguns, meio humanos – a metade de baixo humana), sempre usam chapéu para ocultar o rosto e passeiam nas cidades. Quando chegam a alguma festa em aldeias ribeirinhas, vão entrando lentamente, comportando-se de maneira tímida, quietinhos, envergonhados, sempre muito educados. Isso até a primeira bebida. Os botos têm uma resistência sobre-humana à bebida.

Antes do amanhecer, porém, eles têm que voltar para a água, pois o sol os transforma em botos outra vez.

Geralmente são bonitos e simpáticos e dançam muito bem. Como são muito namoradores, costumam levar as donzelas mais bonitas às margens do rio e as engravidam. 

Quantas e quantas vezes as moças grávidas de pai desconhecido revelaram para seus pais e amigos que foram engravidadas pelo boto...!
Eis a lenda! Singela e mansa. 

O que pretendo desenvolver nessa manhã está diretamente ligado à lenda do boto. Porém meu objetivo é extrair dessa crendice algo que ela mascara.
Sabe-se que em povoados ribeirinhos da Amazônia é costume o pai iniciar sexualmente suas filhas menores. Essa prática é aceita por aquelas comunidades. Trata-se de uma combinação de pedofilia e incesto e pode ensejar as justificativas para a lenda do boto. O grande peixe dos rios da Amazônia. 

A advogada Maíra Barreto , doutorada em direitos humanos pela Universidade de Salamanca e estudiosa de infanticídio indígena indica que o mito do boto serviria para encobrir os autores de muitas das gestações infantis que ocorrem nessa região. Isso pode indicar que muitos dos filhos de boto são frutos de incesto.

Na Psicanálise, exatamente em Totem e Tabu , vemos Freud construir um mito: o assassinato do pai da horda primitiva.

Esse pai primevo possuidor de todas as mulheres expulsava os filhos à medida que cresciam.

Ele exercia o excesso.
Concentrava a potência da comunidade usando-a e lançando os demais – fêmeas e prole – à experiência da impotência, da exclusão, da marginalização e, até da morte.

O violento pai primevo era temido e invejado por cada um dos filhos. Mas, certa vez, os filhos expulsos retornaram e, juntos, o mataram e, num banquete totêmico, devoraram o pai.

Porém o assassinato torna esse pai, que até então era presença, em onipresença; que era potência, em onipotência; que era ciência, em onisciência. O pai primevo que habitava o mesmo espaço dos filhos agora passa a habitar os filhos.

Não nos esqueçamos do banquete totêmico: o pai primitivo foi devorado. E esta comunhão torna os filhos portadores dos atributos paternos.

O pai primevo nos habita!

A dívida contraída com o assassinato será, então, honrada mediante o culto à instituição simbólica da proibição do incesto e será transmitida de geração em geração. Ou seja, o que será transmitido é a lei do desejo, da interdição do incesto e da castração. Enfim, o controle do excesso, até então protagonizado pelo pai primitivo.

Mas um crime é um crime. Um pecado de origem. E, tal como um pecado original, impõe ao pecador uma mácula. Por isso a civilização fará o possível para mascarar sua origem fundada nesse crime coletivo do parricídio.

Uma das formas de se ocultá-la será a criação de mitos em que a coletividade criminosa é substituída pelo herói individual capaz de realizar a proeza de dar ao seu povo – seus irmãos – a experiência de liberdade sem onerá-los com a culpa. 

Freud postula que a culpa pelo assassinato do pai odiado e amado leva ao arrependimento e a uma dívida para com o ele: " O pai morto tornou-se mais forte do que o fora vivo”. Esse é o preço do assassinato!

O que até então era interditado despoticamente pela existência física do pai passa a ser proibido pelos próprios filhos, a partir de um pacto entre eles. Assim nascia a civilização.

A coesão grupal dar-se-á pela partilha do ódio e o desejo de matar, juntamente com a culpabilidade e o arrependimento.

Desse modo, os membros desse novo clã, os assassinos, fortalecem os laços de identidade. Nascia a fraternidade amalgamada com civilização.

Diferente do pai primevo, o pai é, portanto, a expressão da ausência do pai primevo. E é sobre esta ausência que se faz a cultura, a moralidade e a religião. Por isso dizemos que o pai é o representante desse rompimento com a natureza, expressão de um vazio. 

Um vazio regulado pela lei.

A lei que busca garantir que o caos da horda não volte a se instalar. Mas que ao mesmo tempo é o indicativo de que esse estado primitivo é sua outra face.

Notemos que, a lenda do boto nos apresenta essa dimensão. Herdada dos indígenas, a comunidade ribeirinha, portanto civilizada, não só adota a lenda como também torna o ato transgressor um costume. Esse, livre de qualquer reflexão crítica e punição.

Mais do que isso, o que sabemos pelos relatos é que os pais de meninas entendem que têm poder sobre o corpo das filhas, deflorando-as. Para encobrir tal ato a comunidade ecoa frases, que tornaram-se populares e que justificam o ato e autorizam a onipotência: “quem planta a bananeira tem direito a comer o primeiro fruto".

Não se trata apenas da ação desses pais, mas da comunidade que diante de tal prática cala-se e não reage, afirma Maria do Carmo Modesto , coordenadora de projetos de defesa da família brasileira.

Desse modo, os discursos e práticas civilizatórios tentam escamotear as origens imorais e agressivas das éticas que fundamentam a solidariedade.

Apossar-se do corpo das jovens, é um ato violento. A maneira de escamotear a esse crime é a geração de lendas, expressões populares que repetidas formam a liga social e escondem a verdadeira ação.

Tanto o dito popular, quanto a lenda do boto, oferece a máscara para o ato violento. E ao mesmo tempo buscam afastar o caos.

Muitos de nós não partilhamos dessa crença em torno do boto, muito menos praticamos a pedofilia, muito menos entendendo-a como direito do pai. Por isso, podemos verificar o ato violento e a expressão de indiferenciação entre os envolvidos.

Com isso posso afirmar que a lenda do boto, neste caso, é a expressão do vínculo social nessa comunidade e que tem por fundamento a violência, a agressividade. 

Uma agressividade manifestada pela ausência de expressão das individualidades. 

Aliás, a supressão da individualidade é marca indelével de qualquer ato violento.
Trata-se do retrato do caos. Não exatamente o caos primordial, pois esse não retornará como tal. Mas a ameaça manifestada na angústia de cada sujeito de ser confrontado sem qualquer mediação, ou seja, sem a lei.

Eis aqui mais uma boa consequência da lei: a instauração do outro, da alteridade. A mediação gera o outro.

Assim, o sujeito tal como o podemos pensar e conceber hoje é produto, também, dessa agressividade original, do ato odioso dos primitivos. 

Como já indiquei acima, é no mesmo ato que se funda o sujeito e a cultura, sendo esta efetivada por uma comunidade de iguais e não por um núcleo centralizado de poder. 

A maneira: a interdição da expressão desse ódio. Sabemos que a repressão é um expediente de conservação mais eficaz que qualquer outro. Mas, como sabemos também, falha.

O que lhes apresentei até agora não se trata de outra coisa senão a compreensão psicanalítica do início. Início da civilização e do humano que o sustenta. Uma espécie de acordo contra o caos, tal como o esbocei. 

Mas o pacto civilizatório é da ordem da cultura, não se trata de uma condição biológica. Por isso precisa ser lembrado e permanentemente promovido. O pacto é sempre um processo inconstante e contraditório, submerso em uma tensão permanente das forças pulsionais. 

Mas, quando um comportamento estabelecido culturalmente tem sua força afrouxada o que se observa é um aumento da pressão do seu representante interno, ou seja, um aumento da proibição psíquica, uma espécie de contrapeso. É isso que se tem observado nas sociedades modernas.

Seria ingenuidade pensar numa base isenta de agressividade e ódio, considerando, como já afirmei há pouco. Assim, indicamos que a agressividade é estruturante e uma de suas expressões é a violência. É algo inerente ao homem e não há como, simplesmente, livrarmo-nos dela. É necessário encontrar formas de inseri-la, de metabolizá-la. A agressividade, expressa por vezes em gestos de violência é a expressão do crime mascarado.

Como sabemos, Freud desenvolve seu pensamento em torno da idéia de uma sexualidade reprimida no próprio sujeito. Descobre que a possibilidade de reversão deste quadro era justamente pela fala do paciente. Era pela possibilidade do reconhecimento, por meio da expressão do desejo reprimido.

Embora Freud tenha tratado de outros pacientes com outras patologias, eles não expressavam as preocupações da sociedade dos primórdios do século XX.
Em meio às turbulências morais, próprias da tensão entre desejo e interdição, e a angústia do caos sempre dando seus sinais, o homem se percebe sem apoio, sem referencias, não se reconhecendo no olhar do outro, a falta de governantes em quem possa depositar a expectativa de representabilidade e outras perdas profundas, tudo isso fragiliza o pacto social. O que se pode esperar?

Na verdade, como se sabe, nem o parricídio e a culpa pelo crime, nem alguma rivalidade entre irmãos, nem, o que é mais decisivo, a persistência da inveja da onipotência paterna, afinal comungamos desse pai despótico, serão passíveis de uma inteira metabolização. Este será o dote, a herança de cada um de nós da qual nunca nos poderemos descartar definitivamente. 

Herdamos a onipotência paterna. Isso também não foi, nem será definitivamente metabolizado. 

Diante do quadro que se nos apresenta nosso tempo, muitos desejam a presença do pai despótico. Mas precisamos do pai como lembrança, e não como presença. É preciso reconhecer o pai morto!

Diante da única alternativa proposta pelo pacto, qual seja, a interdição do desejo, o que podemos pensar é que trata-se da sua extinção. O homem sem desejo seria mais feliz!”

De modo algum! A extinção do desejo é a extinção da dualidade constitutiva. Ela só existe no sonho sonhado. No sonho relatado pode-se viver a tensão entre o desejo e o pacto. 

Para isso podemos pensar em outra função para a interdição.

A interdição existe para ser transgredida! 

Como?

Ora, o que fazemos aqui hoje? Não estamos transgredindo? Não estamos desafiando nossas crenças? Nossos valores? Nosso progresso moral não se dá na e pela transgressão das normas vigentes?

Pois bem. Essa é a gramática das trocas sociais da civilização. 

A Psicanálise é uma transgressão. Uma transgressão que dá-se pela mediação da fala. 

A fala é a condição para existir o momento psicanalítico e o que entendemos por desenvolvimento. Alias desenvolver nada mais é do que um ato transgressivo: desenvolver é a transgressão do envolvimento. Envolvidos plenamente em nossos posicionamentos paralisamos. Des-envolver. Por isso não basta coibir o incesto: é preciso regular as trocas e sustentar as ofertas. A economia libidinal precisa ser atendida. A economia libidinal não pode ser represada, por isso a repressão é eficaz, mas mão definitiva.

Enfim, não há, nem haverá um extermínio do mal. Devemos considerar que todos os impulsos que a cultura proíbe encontram-se entre os impulsos primitivos que nos constitui.

A transformação dos impulsos primitivos na direção de algo socialmente valorizado é possível. Para tanto são recrutadas forças e fatores internos e externos. É justamente nesse aspecto cotidiano, das práticas menores e persistentes, que encontramos a força de reposição coletiva desses males. Isso quer dizer que nossos espaços de troca precisam ganhar em diálogo. 

A melhor maneira de compreender o que proponho é justamente retomar a lenda do boto.

A transgressão na sua forma mascarada pela lenda vem nos ganhando por meio da mídia ou dos trabalhos científicos a respeito. Há ainda ações de mediação popular que não implicam necessariamente a aplicação da pena civil, mas a fala.

Quando nos chega às mãos o trabalho da referida advogada ou da coordenadora de projetos de defesa da família brasileira podemos pensar que alguma elucidação está acontecendo em torno desse mal.

Nossa função, portanto, é encontrar pontos no tecido social, sobre os quais nossa proposta de tornar fala o ato possa ganhar terreno e produzir algum sentido.

Trata-se, em outras palavras, de uma alternativa ao narcisismo, ao egoísmo cruel, próprio desses impulsos primitivos. Essa alternativa está no pacto social quando fornece a todos e a cada um uma boa razão para abrir mão de sua satisfação imediata e construir uma passagem ao campo participado.

Encerro minhas palavras com uns versos que encontrei nessas andanças para construir esse texto. Trata-se de um poema de Antonio Juraci Siqueira, poeta popular Paraense. 


O Boto - Série "Juro que vi" - Folclore Brasileiro

https://www.youtube.com/watch?v=1r5W7Ym2Jog&index=11&list=PLVtCIWhGYaUNn3ZNvUpbP0YRgZCPtkv3z 

 


EU, O BOTO
Eu venho de um mundo
que tu não conheces;
--do onde, do quando,
do nunca, talvez...

Eu venho de um rio
perdido em teus sonhos,
um rio insondável
que corre em silêncio
entre o ser e o não ser.


Eu venho de um tempo
que os homens não medem,
nenhum calendário
registra os meus dias.
sou filho das ondas
que gemem na praia,
sou feito de sombras
de luz, de luar
e trago em meu rosto
mandinga e mistério
e guardo em meus olhos
funduras de um rio.

Cuidado, cabocla!
cuidado comigo
que eu sou sempre tudo
que anseias que eu seja:
--teus ais, teus segredos
tua febre e teu cio...

Se em noites de lua
sentires insônia
e a fome de sexo
queimar tuas estranhas,
a sede de beijos
tua boca secar
e em brasa teu corpo
meu corpo exigir,
contigo estarei
na rede de encanto
cativo nas malhas
da teia do amor.

E quando teus olhos
fitarem meus olhos,
e quando meus lábios
teus lábios tocarem,
e quando meus braços
laçarem teu corpo,
e quando meu ser
em teu ser penetrar
só então saberás
quem sou e a que vim.

E assim que a semente
do amor, do desejo,
vingar em seu ventre
gerando outro ser,
não mais estarei
contigo. Somente
a minha lembrança
permanecerá
boiando nas águas,
barrentas, confusas
de tua memória
cansada, febril...
--Foi sonho? -- foi fato
ninguém saberá!... 


* Esse texto foi apresentado no 12º Simpósio CEFAS e 1º Simpósio Associação Criança, em 4 de dezembro de 2010, Soracaba, SP.



 REFERÊNCIAS BIBCBLIOGRÁFICAS

BEM, Arim Soares. A Dialética do turismo sexual. Campinas:Papirus, 2005.

FIGUEIREDO, L. C., in KEHL, M. R., “FUNÇÃO FRATERNA”, RJ, RELUME DUMARÁ, 2000.
http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/taxonomy_menu/9/13


KLAIN, W.; “EDUCAÇÃO: PREVENIR OU FORMAR”, disponível em http://www.psicologianocotidiano.com.br/articulistas/articulista_descri.php?id=53
_____, “O EU E A CULTURA”, DISPONÍVEL EM http://www.psicologianocotidiano.com.br/articulistas/articulista_descri.php?id=65
_____, “A HERANÇA DO DESAMPARO: um estudo Psicanalítico do conceito de desamparo na gênese da Identidade”. Dissertação de mestrado apresentado à PUC-SP, 1998.

McKERCHER, B. & BAUER, T. (2003). "Conceptual Framework of the nexus between Tourism, Romance and Sex". In: McKercher, B. & Bauer, T. (eds). Sex and Tourism: Journeys of Romance, Love and Lust. New York: Haworth Hospitality Press, pp. 3-17.

ENRIQUEZ, E., “DA HORDA AO ESTADO: Psicanálise do vinculo social.” R.J., Jorge Zahar Editor, 1990.

PELLEGRINO, H. “PACTO EDÍPICO E PACTO SOCIAL”, Pronunciamento feito após a apresentação da peça Édipo-Rei, de Sófocles, no teatro Ruth Escobar, São Paulo, SP, 8/7/83, num debate após a encenação.

RYAN, C. & HALL, M. (2001). Sex Tourism: Marginal People and Liminalities. Routledge: London.

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