quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Adam Kuper – Antropólogos e Antropologia


*Fichamento do livro Antropólogos e Antropologia de Adam Kuper: capítulos I e II


I. Malinowski


“O objetivo de estudo da Antropologia foi definido com razoável clareza no início do século XX[...] Sua essência era o estudo do homem ‘primitivo’[...] o estudo da cultura.” (p.12, ¶ 2)
“Malinowski expõe o seu ponto de vista com referencia às preocupações das principais escolas.” (p. 14, ¶ 3)


“A influência do meio ambiente sobre as instituições culturais e a raça é estudada pela Antropogeografia [...] A influência recíproca dos vários aspectos de uma instituição, o estudo do mecanismo social e psicológico no qual a instituição se basea, constituem um tipo de investigação teórica que, até ao presente, só se praticaram de um modo conjectural. Mas arrisco-me a predizer que mais cedo ou mais tarde adquirirão certa personalidade própria”. (p. 14, ¶ 4)


“Radcleffe-Brown escreveu de um modo mais seguro e direto.” (p.15,¶ 1)


“Creio que, de momento, o conflito realmente importante nos estudos antropológicos não se trava entre os ‘evolucionistas’ e os ‘difusionistas’ nem entre as varias escolas de ‘difucionistas’, mas entre a história conjectural, de um lado, e o estudo funcional da sociedade, do outro.” (p.15, ¶ 2)


“A contra influência de Durkheim e da sua Escola de Paris, a qual atraíra as atenções de Radcleffe-Brown [...] antes da I Guerra Mundial e que continuou a influenciar os antropólogos sociais britânicos.” (p. 15, ¶ 4)


“O enfoque funcionalista não era visto como algo que desejaria as preocupações evolucionistas e difucionastas mas, outrossim, como algo que deveria ser-lhes adicionados.” (p. 19, ¶ 3)


“Era essa opinião do próprio Malinowski. Ele manteve-se evolucionista durante toda a sua carreira e, a semelhança dos seus colegas ortodoxos, acreditava que a coleta de fatos cuturais vivos iria gerar, em ultima analise, leis evolucionistas.” (p. 19, ¶ 4)


“Doente demais para continuar suas pesquisas científicas. [Malinowski] Desesperado decide distrair-se com a leitura de um clássico inglês, escolhe The Golden Bough e coloca-se imediatamente ao serviço da antropologia franzerina.” (p.21, ¶ 1)


“Na época em que estava centralizado seus exames para obtenção do doutorado, leu pela primeira vez The Golden Bough, e isso, afirmou por diversas vezes, foi o que fez dele um antropólogo.” (p.22, ¶ 2)


“Em Leipzig decidiu depois diversificar seus interesses e estudou Psicologia Experimental, sob a direção de Wundt, e História Economica, com Bübher.” (p.22, ¶ 3)


II. Radcliffe-Brown


“Malinowski trouxe um novo realismo para a antropologia social, com sua percepção aguada dos interesses reais subentendidos no costume e suas técnicas radicalmente novas de observação. Radcliffe-Brown, por sua vez, introduziu a disciplina teórica da Sociologia francesa e veio em ajuda dos novos pesquisadores de campo com uma bateria mais rigorosa de conceitos.” (p. 51, ¶ 1)


“Radcliffe-Brown sofreu a influência das teorias sociológicas de Durkheim antes da I Guerra Mundial.” (p. 52, ¶ 2)


“Radcliffe-Brown dividiu os ‘costumes’ em três tipos: técnico, regra de comportamento e aquilo a que chamou ‘costume cerimoniais’, nos quais concentrou sua atenção.” (p. 58, ¶ 4)
“A sociologia de Durkheim foi a mais importante influência sobre o pensamento maduro de Radcliffe-Brown, mas ele também permaneceu um evolucionista na tradição de Spencer.” (p 65, ¶ 2)


“Apesar das menções iniciais há uma explicação ‘cultural’ e ‘psicológica’, a sua orientação desde 1910 foi definitivamente psicológico. Para ele, a sociologia significava uma espécie de trabalho realizado por Durkheim e, acreditava às vezes Steinmetz e Westermarck, mas não era certamente a corrente geral de pesquisa e reportagem social
que passava por sociologia nos EUA. Ignorava, segundo tudo leva a crer, a obra de Weber e Simmel, mas as teorias destes só se tornaram amplamente conhecida na Grã-Bretanha na década de 1940.” (p.65, ¶ 3)


“Poderíamos resumir o desenvolvimento desde Durkheim até Mauss e Radcliffe-Brown dizendo simplesmente que os estudos de Malinowski nas Ilhas Trombiand se situaram de permeio. Curiosamente, eles influenciaram mais o trabalho Mauss do que o de Radcliffe-Brown, e o próprio Malinowski não tardaria em afastar-se das preocupações das idéias de Durkheim.” (p.67, ¶ 3)


“Radcliffe-Brown dedicou-se mais ao estudo das relações sociais.” (p.67, ¶ 4)


“A forma estrutural esta explicita em ‘usos sociais’, ou normas sociais, os quais se reconhece geralmente como obrigatórios e são largamente observado. Portanto, esses usos sociais tem as caracteristicas dos ‘fatos sociais’ de Durkheim, mas Radcliffe-Brown insistiu, uma vez mais, em que eles não eram deduzidos mas sim observados.” (p.69, ¶ 3)


“A especialidade de Radcliffe-Brown era o sistema de parentesco e foi esse o campo em que teve maior liberdade para desenvolver os seus próprios ‘insights’, uma vez que Morgan e Rivers tinham-se baseado em explicações históricas dos sistemas de parentesco e a escola de L’Année Sociologique negligenciara inteiramente o tópico.” (p.74, ¶6 – p. 75, ¶ 1)

Anny  Karoline 



Referências Bibliográficas


KUPER, A. Malinowski. In: KUPER, A. Antropólogos e Antropologia. Rio de Janeiro: F. Alves, 1978. p.11-48.
KUPER, A. Radcliffe-Brown. In: KUPER, A. Antropólogos e Antropologia. Rio de Janeiro: F. Alves, 1978. p.51-84.


Malinowski

Pai da Antropologia Social Birtânica? Houve uma revolução funcionalista, cujo líder foi Malinowski, mas que não estabeleceu uma teoria funcionalista como este propusera. Funcionalismo rejeitando o difusionismo e a teoria evolucionista: forte influência durkheiminiana.
Necessidade de se começar a colher os fatos: (neo)colonialismo poderia acabar com eles – ressurgimento do empirismo britânico. Análise sincrônica: enfoque funcionalista não desaloja as teorias evolucionistas e difusionistas, mas lhes acrescenta algo. Mas ele era cada vez mais indiferente com a questão das origens.
Importância a questão do método (ver resumo da introdução dos Argonautas...): captar a mentalidade nativa – diferenciar o que as pessoas fazem do que elas dizem estar fazendo (costumes organizam-se em um todo coeso em torno de atividades, mas os indivíduos, sempre que podem, os manipulam em seu benefício).
Mensagem do seu trabalho com dimensão política: se as culturas eram mecanismo delicadamente afinados para a satisfação das necessidades dos homens, então cada uma tinha seu valor è abordagem relativista.
Cada monografia interessava-se por um foco institucional: nunca descreveu a cultura trombiandesa como um todo pois lhe faltava a noção de um sistema, descrevia-a parceladamente.
3 aspectos centrais em suas monografias: a) aspectos da cultura não podem ser estudados isoladamente (necessidade do contexto de seu uso); b)As pessoas sempre dizem uma coisa e fazem outra; c) racionalidade do selvagem: tal como a nossa, manipula as possibilidade da maneira que lhe for mais vantajosa.
Cultura como todo integrado pois são unidades funcionais: todo e qualquer costume existe para preencher um propósito (significado vivo e coerente do costume para com os membros da sociedade) – resultados dos meios que os homens usam para satisfazer suas necessidades. Concepção própria de homem: realista, prático, razoável, falho de imaginação. Crenças e ritos aparentemente irracionais fazem sentido quando se aprecia seu uso.
A cultura existe para satisfazer necessidades, as quais decorrem da própria aquisição da cultura: mostre-me um complexo de costumes e decidirei intuitivamente a que necessidade esse complexo serve.
Acusado de ser indiferente com o desenvolvimento histórico: ele não estava preocupado com problemas de história.
Primeiro a mostrar o caminho em que o princípio de reciprocidade poderia servir para vincular o individuo, em seus próprios interesses, a comunidade.
à Radcliffe-Brown (RB):
Sociologia de Durkheim é sua maior influencia, embora tenha permanecido evolucionista na tradição de Spencer. Sociedades como organismos, devem ser estudadas pelos métodos das Ciências Naturais, evoluindo no sentido de diversidade e complexidade.
Após a IGM, coube a Mauss e RB perpetuar a obra de Durkheim, tendo RB trabalhado com o estudo das relações sociais.
Estrutura social: sistemas de relações de encadeamento entre indivíduos que ocupam papéis sociais: soma total das relações sociais de todos indivíduos num dado espaço de tempo. Não se trata de uma abstração, mas de realidade (criticado por essa afirmação). Forma estrutural explicada em usos, normas sociais (com as características dos fatos sociais de Durkheim). Uma vez extraída a forma social de uma certa quantidade de sociedades, passa-se a classificação e comparação (base do procedimento científico). Objetivo final: generalizações: leis sociais (ou seja, características comuns de todas as sociedades humanas). Estruturas sociais em fluxo, formas sociais eram comparativamente estáveis. Estabilidade depende da integração de suas partes e do desempenho por essas partes de determinadas tarefas que são necessárias à manutenção da forma.
Necessidade básica de todas as sociedades: ajustamento mutuo dos interesses dos membros da sociedade, padronização de comportamento: cultura. Só podemos estudar a cultura como uma característica do sistema social. Se estudamos a cultura estamos sempre estudando os atos de comportamento de um conjunto específico de pessoas que estão vinculadas entre si numa estrutura social.
Dinâmica de como as sociedades mudam de tipo eram logicamente seculdários, seriam deduzidos pelas leis da continuidade social. Mostrar como um uso social preenche uma dessas funções básicas, das quais depende a manutenção de formas sociais estáveis è Ele não era somente um funcionalista, mas também um estruturalista.
Sua especialidade era o sistema de parentesco: conjunto de usos sociais interligados que se baseavam no reconhecimento de certas relações biológicas para fins sociais. Eixo central era a família. Sua abordagem difere da do método clássico, recusando explicações especulativas e reducionistas. Irmão da Mãe: hipótese extensionista.
Sua preocupação final sempre fora a sociologia comparada
à As décadas de 1930 e 194 – Da função à estrutura (dos estudos malinowskianos aos estudos radcliffe-brownianos).
PErídodo funcionalista na década de 30 (MALINOWSKI) e período de uma onda de predominância de estudos neo-radcliffe-brownianos. Em parte, deve-se a mudança do trabalho de campo da Oceania para a África (estudo de sociedades em grande escala). Permanecia, porém, a ênfase malinowskiana pelo trabalho de campo por observação participante, como um ideal a ser seguido.
Problema básico da antropologia funcionalista (mais precisamente a antropologia malinowskiana) era do recorte: se está tudo relacionado, onde pára a descrição? Faltava uma teoria que explicasse o que era relevante e o que era periférico para a resolução de um determinado problema.
1ª Resposta: Bateson em Naven: questão da seleção e abstração – se fosse possível descrever a cultura pormenorizadamente nada pareceria diferente, estranho, mas seria tão natural como nossa própria cultura. Mas ele mesmo critica sua escassez de fatos, que nem conseguiria demonstrar sua teoria (dá importância às relações interpessoais: cismogênese)
2ª Resposta: Evans-Pritchard – Bruxaria, Oráculo e Magia entre os Azande: interesse pela cultura como um todo. Problema básico era de como podem seres racionais acreditarem em tais coisas. Escrito como que dirigido a um cético que Evans-Pritchar (EP) quer convencer: crenças como decorrência lógica, consistência intelectual dos zande.
Tom combativo à Malinowski: seleção de algumas de suas relações: enfoque institucional (sobre a magia) foi tipicamente malonowskiano, mas o método de abstração não o foi (seleção de relações a serem feitas).
Considera dois métodos de abstração:
a) Tratamento de apenas uma parte da vida social e de problemas particulares e limitados, tomando em consideração o resto a medida que for relevante para esses problemas (Malinowski e Mead)
b) Método estrutural: análise estrutural através da integração de abstrações provenientes da vida social (característica de EP nos Zande): estruturam uma análise convincente de uma vasta coleção de dados. Bruxaria como causa socialmente relevante do infortúnio.
Preocupação com a estrutura social e interesse por sistemas políticos e de parentesco. Aquilo que os autores haviam identificado na Oceania era apenas uma pequena parte dos mecanismos governamentais das sociedades africanas (amplitude política: urgência em resolve-los devido a necessidade das autoridades coloniais).
Ambição comparativa. Maior problema fora criado por sociedades que careciam de instituições políticas centralizadas: Os nuer.
Esses livros também apresentavam um afastamento da posição de RB: estrutura social passou a conotar a estrutura de relações entre grupos
Ver resumo sobre os Nuer (noção de equilíbrio: muito criticada por Leach).
EP adotou o ponto de vista de Durkheim e RB sobre o caráter das sociedades segmentarias, procurando a ordem no domínio dos valores compartilhados (a consciência coletiva). OS Nuer: exercício de abstração da estrutura social segundo um nível durkheiminiano de consciente coletivo: interesse em valores, argumentando que relações políticas são melhor enunciadas como tendências para ajustar-se a certos valores em certas situações, e o valor é determinado pelas relações estruturais das pessoas que compõem a situação.
Uso de uma noção amis refinada de estrutura: aceita a lógica de Bateson, transcendendo o realismo simplista de RB: Trata-se de uma abstração da realidade concreta, para escapar ao enfoque das relações interpessoais.
à Leach e Gluckman: para além da ortodoxia
Gluckman e Leach: rompem com a tradição (malinowski, RB e Evans-Pritchard), tanto no que diz respeito a uma estrutura impositiva como ao trabalhar com a relação entre povos, e não somente uma tribo isolada.
Problemática de considerar os dois em conjunto: Leach critica a noção de equilíbrio de Gluckman. Leach se considera um funcionalista, discípulo de Malinowski, mas consciente das limitações da teoria de seu mestre.
Leach e Gluckman, duas figuras intermediárias entre a geração pioneira e a do pós-guerra, interessavam-se em dilatar o âmbito e aumentar a penetração das teorias que tinham sido estabelecidas na década de 1930. Em uma frase: "o dinamismo central dos sistemas sociais é fornecido pela atividade política, por homens que competem entre eles para aumentar seus recursos e encarecer seu status, dentro do quadro de referência criado por regras requentemente ambíguas" (KUPER, 1978, p. 171)
Gluckman: Oposição segmentária na Zululândia pré-colonial produzia coerência e equilíbrio: conflitos eram positivamente funcionais, como a rivalidade Nuer. Vai além, ao contrastar este sistema estável com o que encontra em campo: oposição entre dois grupos não é equilibrada (um é superior: os europeus).
Análise de uma situação social na zululândia moderna vai além: Sociedade política plural formada por dominação colonizadora deve fornecer o quadro de referência para a compreensão dos sistemas "tribais" locais. Descrição do evento da ponte: diferentes grupos seriam obrigados a interatuar em esferas de interesse comum: "comportam-se da maneira como se comportam pois a ponte é o centro de seus interesses, associando-os em uma celebração comum" (KUPER apud GLUCKMAN, idem, p. 173).
Situação não era estável: resolução de conflitos necessitava de mudanças estruturais. Esse tipo de modelo contrasta com as sociedades Zulus pré-coloniais, caracterizada por sua reativa estabilidade. Equilíbrio social resultaria do equilíbrio de oposições no num processo dialético. Há conflito também no ritual, que ao expressa-lo purifica a sociedade.
Se inspira nos estruturalistas britânicos RB e EP: trata-se de um dos desenvolvimentos possíveis das teorias da ortodoxia britânica. Ponto mais fraco da teoria de Gluckman: idéia de sistemas sociais repetitivos em oposição aos variáveis . Levou-o a absurdos.
Sua análise de apenas uma situação social na Zululândia indica seu descontentamento com os modos convencionais de apresentação do material etnográfico ilustrativo. Inova ao trabalhar com o conflito e ao advogar pelo trabalho da situação política total.
Obs: Turner: Fissão na aldeia. Interesses entre homens membros de uma matrilinhagem conflitando com irmãos, maridos e cunhados. Luta de parentes para conseguir mulheres e seus filhos. Única unidade era a dos filhos de uma mãe (alvo do pai e do irmão da mãe). "Drama social" para apresentar o modo como os conflitos se resolviam: "conflitos manifestos punha a descoberto as tensões subjacentes do sistema social; portanto, dramatizavam as tensões inerentes à própria estrutura" (idem, p. 180). Turner reconhecia a influência de Gluckman. Foco no indivíduo, em seus papéis prescritos.
Leach: Sistema Político na Alta Birmânia – inutilidade de utilizar a definição de tribo para agrupar KAchin e Shan: eles devem ser vistos como compreendendo um único sistema social., mas não em equilíbrio. O equilíbrio ignora as inconstâncias, que podem ser justamente a chave para se compreender os processos de mudança social.
Ritual: expressa e reafirma um ideal do sistema de relações sociais aprovadas, e não tanto no sentido normativo. Análise estrutural e rituais das pessoas são abstrações idealizadas, tentativas de impor um "como se", ordem fictícia mas compreensível imposta ao fluxo da vida social. Busca de poder: série de opções que podem mudar a estrutura da sociedade.
Interesse por como os Kachin tornam-se Shan e vice versa: um tipo de sistema a transformar-se no outro. Dinâmica da mudança é fornecida por indivíduos disputando poder.
O modelo do antropólogo também está necessariamente muito distante dos fatos empíricos. É um modelo de equilíbrio "como se", diferindo unicamente do gênero de modelo usado pela próprias pessoas na precisão de suas categorias. "Para entender o fluxo real de relações sociais, o antropólogo deve considerar as anomalias e contradições, e observar como indivíduos ambiciosos estão manipulando os recursos políticos" (idem, p. 189).

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